sábado, 25 de outubro de 2014

"A cidade do terceiro mundo" segundo Ricardo Rio


Não houve feridos, mas pelo menos cinco automóveis ficaram danificados pelas águas que inundaram os principais túneis rodoviários de Braga na noite desta quarta-feira, em resultado das condições climáticas adversas que atingiram a região. Foi uma noite de chuva “anormal” para esta altura do ano, em que se viveu “uma espécie de pesadelo” na cidade, diz o vereador da Protecção Civil, Firmino Marques. A autarquia rejeita por isso responsabilidades quanto ao sucedido, garantindo ter feito a limpeza prévia das saídas de água.

Os problemas causados pela chuva intensa, que começou a cair ao final da tarde de quarta-feira, estenderam-se a outras cidades do Minho, mas atingiram com maior gravidade Braga. Os principais problemas foram sentidos nos túneis rodoviários da cidade, sobretudo o que cruza a Avenida da Liberdade e o da rotunda das piscinas municipais. A queda da chuva foi demasiado intensa para a capacidade de escoamento das duas estruturas, que ficaram cheias de água numa altura que ultrapassou um metro. Pelo menos cinco automóveis ficaram cobertos e tiveram que ser rebocados.

O tráfego rodoviário esteve cortado em quatro artérias da chamada rodovia de Braga, que contorna toda a cidade, entre as 22h00 e as 5h30. Na manhã desta quinta-feira a circulação já tinha sido retomada com toda a normalidade. “Com o trabalho de muitas pessoas, operou-se um pequeno milagre. Hoje, quem passa nos locais afectados, não se apercebe do que aconteceu”, afirma o vereador da Protecção Civil da Câmara de Braga, Firmino Marques. A noite, no entanto, “foi uma espécie de pesadelo”, ilustra o mesmo responsável.

O vereador bracarense conta que se registou uma pluviosidade “absolutamente anormal” para esta altura do ano. “As indicações que temos indicam que estivemos com condições climáticas semelhantes às que habitualmente se registam em Dezembro”, diz. Firmino Marques reusa responsabilidades da autarquia no sucedido, garantindo que os serviços municipais e da empresa de água e saneamento Agere fizeram a limpeza regular nos últimos dias. Além disso, as quatro motobombas instaladas nos túneis rodoviários “nunca deixaram de estar a funcionar”, assegura.

Durante a madrugada, em Braga, houve um deslizamento de um terreno na saída da rotunda de Infias para rua Padre Macedo, devido à saturação provocada pelo excesso de água, que levaram algumas toneladas de terra para o meio da via, sem causar danos de grande monta. A circulação também já foi reestabelecida naquela via.

As situações mais graves desta madrugada foram reportadas aos Sapadores. Em sentido contrário, os Bombeiros Voluntários de Braga dão conta de pouco mais de uma dezena de chamadas recebidas a partir das 22h00, quase todas para “situações ligeiras”. “Foram pequenas inundações, nada de muito grave. Na maioria dos casos fomos apenas retirar tampas de caixas de saneamento para resolver a situação”, afirma fonte da corporação.

09/10/2014 Público

http://www.publico.pt/multimedia/video/mau-tempo-noite-de-inundacoes-em-braga-201410914075



BRAGA ON 14/10/14

Sobre as inundações em Braga, e os dados apresentados pelo IPMA

Sobre as inundações que ocorrem em Braga e em qualquer outra cidade, devemos procurar distinguir o que é aceitável ou não.



Uma cidade deve estar projetada para funcionar perante situações normais e situações anómalas que se verifiquem com alguma frequência. Normalmente, realizam-se estudos técnicos aos períodos de retorno de 10, 100 e 1000 anos para esse efeito (Estudo para implantação do Mercado Abastecedor de Braga).
Seguramente que em Braga existem diversos pontos que não cumprem estes requisitos e quase todos os anos são afetados.

No passado dia 08-10-2014 a cidade ficou novamente paralisada, por força das diversas inundações, provocadas pela chuva intensa. Sendo que, na sua maioria, em locais recorrentes.
Algumas horas depois, foi noticiado na RUM, que teria sido a chuva mais intensa dos últimos 80 anos, o que tornaria aceitável a saturação e a ineficácia dos sistemas de drenagem.

No dia 10 de outubro, foram reveladas algumas das medições efetuadas, que demonstraram que se tratou de uma precipitação muito intensa, porém, fazendo apenas referência aos últimos 15 anos. Em notícia do Correio do Minho, Ilda Novo do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), afirmava o seguinte:

"Estes valores tão elevados da precipitação em 10 minutos, 30 minutos e numa hora, ocorridos no dia 8 de Outubro, contribuíram de forma decisiva para a ocorrência de inundações em Braga e na região."Já no Diário do Minho podia ler-se:

"Segundo dados divulgados pelo IPMA, entre as 20h50 e as 21h50, Braga registou 45,7mm de precipitação, 37,8 dos quais em apenas meia hora (das 21h20 às 21h50) e 14,7mm em dez minutos (das 21h40 às 21h50).


Entretanto surgiu a reação do presidente da CMB, Ricardo Rio. Que centrou, e bem, o discurso nos erros estruturais que se devem corrigir e não na excecionalidade da situação ocorrida, apesar de voltar a fazer referência aos valores recorde dos últimos 15 anos.

Os valores da precipitação são de fato anómalos, e caso se tivessem verificado na área urbana da cidade de Braga teriam certamente provocado o caos.

Contudo, será que foi isso que realmente aconteceu na cidade de Braga!?

Na verdade, aparentemente, o IPMA apresentou os dados verificados na Estação Meteorológica Automática (EMA) de Merelim, que se situa à cota de 60m, e onde toda a precipitação registada, não afeta minimamente a área mais urbanizada do município, e nomeadamente o caudal do Rio Este e os principais eixos inundados que frequentemente são notícia.

Dada a proximidade com a cidade, os dados não serão totalmente desfasados da realidade. Contudo, todos os estudos e afirmações que se façam sobre a cidade, com base apenas nos registos da EMA de Braga (Merelim), carecerão sempre do rigor devido.

Esta deveria ser uma questão a rever pela CMB junto do IPMA, pois seria de todo conveniente ter uma EMA no vale do Rio Este, numa localização e cota mais aproximada da cidade. Existindo para isso diversos locais com condições para a instalar.

Voltando ao dia 8 de outubro de 2014, apesar do IPMA não disponibilizar os valores de outras estações e postos udométricos situados na bacia de drenagem do Rio Este, neste dia existiam 3 estações em funcionamento, a Estação da Quinta da Capela, Estação de Gualtar e Estação da EB23 Trigal Santa Maria em Tadim, que disponibilizaram os dados.

Estes foram os valores das precipitações máximas, nas 4 estações:
Estação da Quinta da Capela
Diária: 77,7mm
Horária: 24,7mm
30 minutos: sem informação
10 minutos: sem informação

Estação de Gualtar
Dia: 60,7mm
Horária: 26,7mm (21:00 - 22:00)
30 minutos: 22,3mm (21:30 - 22:00)
10 minutos: 8,4mm (21:50 - 22:00)

Estação da EB23 Trigal Santa Maria
Diária: 79mm
Horária: 33,8mm (20:50 - 21:50)
30 minutos: 29,7mm (21:15 - 21:45)
10 minutos: 12,7mm (21:25 - 21:35)

Estação do IPMA em Braga, Merelim (bacia hidrográfica do Cávado):
Dia: ~89mm
Horária: 45,7mm (20:50 - 21:50)
30 minutos: 37,8mm (21:20 - 21:50)
10 minutos: 14,7mm (21:40 - 21:50)

Observando os valores das 3 estações, estes são idênticos e muito inferiores aos que ocorreram na EMA de Braga (Merelim). Portanto, crendo na qualidade dos dados apresentados pelas 3 estações e enquanto não forem conhecidos outros valores, somos levados a concluir que na maioria do perímetro urbano da cidade de Braga, podemos estar perante uma intempérie com um período de retorno de 3 a 5 anos. E não perante um acontecimento excecional, com um período de retorno superior a 15 anos.

Além disso, segundo o Estudo Análise de Fenómenos Extremos - Precipitações Intensas em Portugal Continental (EAFE - PIPC), com base na série udográfica analisada, para um período de retorno de 100 anos os valores previstos para Braga são:
-Dia: 178 a 205mm
-Horária: 51 a 57mm
-30 minutos: 42 a 48mm
-10 minutos: sem informação

E a Precipitação Máxima estimada é de:
-Dia: 343 a 388mm
-Horária: 175 a 191mm

Em suma, é evidente que existem pontos negros na cidade de Braga, que recorrentemente são alvo de ocorrências. Portanto, há que fazer um levantamento rigoroso do município e realizar as devidas intervenções. Tendo bem ciente que ainda não se verificou um acontecimento extremo do nível que alguns estudos (EAFE - PIPC) preveem para Braga. Podendo este ocorrer amanhã, depois de amanhã ou daqui a anos ou décadas.

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