segunda-feira, 2 de março de 2015

Ricardo Rio e a Pirotecnia Mediática







Foi há tempos apresentado o Plano Estratégico para o Desenvolvimento Económico de Braga. O documento, à imagem de outros produzidos pela Coligação PSD-CDS-PPM, liderada pelo Dr. Ricardo Rio, é um belíssimo produto de marketing, design e comunicação.

De facto, nessa área será difícil bater Ricardo Rio e a sua equipa. Desde financiamentos muito para além do legalmente exigido aos Órgãos de Comunicação Locais (Rádios e Jornais), passando por programas na RTP (o famoso Prós e “Prós”, no Theatro Circo) que, supostamente, não teriam tido qualquer custo para o Município (cito, a este respeito, as palavras do próprio Ricardo Rio numa entrevista concedida ao Correio do Minho: “…embora eu deixe absolutamente claro que que a câmara não investiu absolutamente nada nesse programa. Não custou nada à câmara ou a qualquer empresa municipal. Foi uma iniciativa da RTP, articulada com a InvestBraga, porque a direcção de informação da RTP entendeu que Braga é, neste momento, um caso de estudo”) e que, meses mais tarde, se veio a saber que nem a RTP considera Braga um caso de estudo por mérito da nova Governação PSD-CDS da CMBraga, nem o programa se realizou em Braga a título gracioso, tendo, aliás, custado ao Município a módica quantia de quinze mil euros, o que revela duas coisa: em primeiro lugar, uma despudorada mentira do Sr. Presidente da Câmara de Braga e também que, afinal, há dinheiro mas apenas para a pirotecnia mediática com que estes senhores vão brindando todos os Bracarenses.

Regresso, agora, ao cerne do artigo para dizer que quem se desligar das imagens, do “layout” limpinho e bem conseguido e se concentrar no conteúdo, numa leitura mais densa, aprofundada, rigorosa e exigente das propostas que constam do mesmo, terá uma enorme desilusão. O documento tem muito pouco de acções concretas, de propostas mensuráveis e revela, até,algumas falhas graves que tornam o documento uma má ferramenta para o pensamento estratégico do desenvolvimento do Concelho.

Dou, por exemplo, duas notas em relação às quais o Partido Socialista tem, de forma clara e manifesta, de afirmar a sua frontal discordância e repúdio. Uma delas por acção e visão de Ricardo Rio e seus pares que, no afã de promover Braga como um território competitivo no contexto internacional, adoptaram orientações meramente economicistas, liberais, monetaristas e complexadas, na medida em que defendem que uma das maiores vantagens competitivas do nosso território são os baixos salários que por cá se praticam.

Esta visão e mundivisão é, principalmente no contexto de um território rico em competências, qualificado, com uma Universidade – a do Minho – entre as quatrocentas melhores do mundo (Times Higher Education World University Rankings), profundamente errada, desenraizada da realidade, pouco ambiciosa, tacanha, pouco honrosa na forma como olha, encara e posiciona Braga e os Bracarenses no Mundo e inaceitável para um território que com recursos humanos altamente qualificados pode e deve ambicionar um modelo de desenvolvimento assente noconhecimento, na criatividade e na inovação, totalmente ao arrepio do que é defendido neste Plano Estratégico.

Outra coisa grave, o facto de não haver ao nível da Indústria, como seria exigido, a preocupação da Câmara se afirmar como “pivot” essencial da articulação entre a Universidade do Minho e as Indústrias mais vibrantes do nosso Concelho, procurando que, por exemplo, os Estudantes de Engª. da Universidade do Minho, uma das melhores Escolas de Engenharia do País e da Europa, possam partilhar parte da sua formação académica em contexto industrial, aprendendo e apreendendo, de facto, o saber fazer.

Com esta visão pequena, tacanha, cinzenta e pouco ambiciosa, Braga não poderá ambicionar afirmar-se como uma cidade média europeia de referência, na medida em que nunca será capaz de fixar em Braga os seus melhores, os mais capazes, os mais qualificados, uma vez que num território que procura afirmar-se pelos baixos salários, estes serão obrigados a procurar outras paragens, onde o conhecimento e o saber sejam valorizados e bem (justamente) pagos.

Bem sei que isto em nada incomoda o PSD de Braga, agora presidido pelo Deputado Hugo Soares, que numa entrevista dada ao Jornal Correio do Minho, no passado dia 27 de Abril de 2013, meses após ser eleito líder nacional da JSD, disse taxativamente “Não me choca que haja jovens a emigrar”, seguindo a cartilha “austericida” de Passos, Portas e quejandos, aceitando desbaratar o maior património que temos. As pessoas, as pessoas mais qualificadas, mais bem preparadas, aquelas que podem ajudar a transformar o modelo de desenvolvimento económico nacional e ajudar Portugal a vencer o crescimento anémico que revele desde há muitos anos.

Braga merece uma visão mais ambiciosa, mais arrojada, mais exigente e será sempre por essa que o Partido Socialista se baterá empenhadamente.
Pedro Sousa
CM 24/02/15

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