terça-feira, 12 de maio de 2015

Pão e circo em Braga

Broas de milho e uvas mijonas
Aproximam-se as grandes festas da cidade. Primeiro há de a Feira Romana, a que se segue o S. João, para acabar com a Noite Branca. Vai ser um fartote. Empenhadíssima a vereação empunha o gládio e mostra-se aos bracarenses. Começaram por este vídeo promocional, no qual dão o corpinho ao manifesto. Já tinha visto o Ricardo Rio mostrando a pernoca disfarçado de romano à frente da vereação. Confesso, porém, que não estava preparado para ver a vereadora da cultura dando uma de Messalina, deglutindo uvas languidamente, como se não houvesse amanhã. Um Oscar para a senhora já! Ou então, uma vez que falamos de romanos, que lhe entreguem um César. 
Temo que o que a seguir isto virá nos há de levar para territórios ainda mais perigosos. Tutelado por essa insigne figura que dá pelo nome de Rui Ferreira, ao S. João não faltará animação e farturas, tradição serôdia e peito cheio de autenticidade popular. Remataremos a quadra estival com mais uma edição da Noite Branca, evento interessante na origem mas que estas luminárias estão a tentar transformar numa espécie de romaria da mais fina tradição. Importa que o pessoal venha para a rua, seja com toga por ocasião da feira, armado de martelinho quando for o S. João, e de camisinha branca para a noite dessa cor. Brancos deviam eles ficar, pálidos de vergonha, sem pinga de sangue.
«Pão e Circo», já foi o lema. Hoje queremos outra coisa e a equipa do Ricardo Rio está a mostrar-se à altura das nossas exigências. Dá-nos broa de milha com chouriço pelo meio e uva mijona, para que a vereadora não se sinta desacompanhada no repasto. Há confusões reveladoras. Aquelas em que esta malta incorre são-no seguramente. Tomam como expressão da mais elevada cultura qualquer evento que junte uma multidão. Rapaziada correndo e levando com poeira colorida no lombo? É cultura. Martelinhos e alho-porro entre uma sardinhada e um copo de tinto? É cultura. Um porco preto assustado pela turba ululante? É cultura. O Ricardo Rio togado desfilando na avenida? É cultura. Escusam de começar a afiar a navalha: não se trata de uma visão elitista, nada disso. Tudo o que digo tem o seu lugar. Tudo o que digo são, naturalmente, expressão de uma cultura. O problema é ficar por estas manifestações. O problema é termos uma governação autárquica que parece empenhada em reduzir a cultura a um foguetório quanto mais colorido melhor.


Luís Cunha

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