quarta-feira, 17 de junho de 2015

"Ricardo Rio, um fartar vilanagem" by Pedro Sousa

"Recordo-me de vezes sem conta, nos vários anos em que liderou a oposição ao Partido Socialista na Câmara Municipal de Braga, ouvir Ricardo Rio repetir que “...à mulher de César não lhe basta ser séria, é preciso parecê-lo”; fazendo, repetidamente, a apologia de maior parcimónia, rigor e transparência na gestão e nos investimentos da Câmara Municipal.
O discurso era politicamente correcto e podia, admito, fazer algum sentido como crítica a algumas decisões em relação às quais o PS, na Câmara Municipal, terá sido menos feliz. Mais surpreendente, ou talvez não, é verificar o caminho de Ricardo Rio, agora que está a poucos meses de completar dois anos como Presidente da Câmara Municipal de Braga. Tudo começou com uma auditoria encomendada (encomendada é mesmo o termo certo) à PriceWaterHouse Coopers, divulgada com pompa e circunstância pelo Dr. Ricardo Rio que, deleitado, afirmava que a Câmara tinha um passivo de 252 milhões de euros, confirmando, esta, os muitos esqueletos no armário de que o douto Presidente já desconfiava. 
Interessante foi verificar que foram os próprios documentos oficiais da Câmara Municipal (Orçamento e Relatório e Contas) a desmentir, pronta e cabalmente, o exercício imaginativo, criativo e mentiroso do Dr. Ricardo Rio, demonstrando que o passivo, afinal, é de sensivelmente metade daquilo que havia enunciado.
A verdade é que esta história das contas, do passivo e dos esqueletos mais não é do que uma bem urdida manobra de diversão do Sr. Presidente da Câmara que tem, apenas, como intuito branquear a falta de iniciativa, de dinamismo e de liderança política que Ricardo Rio vem demonstrando.
Interessa, assim, desmontar as mentiras de Ricardo Rio para que não se corra o risco de que uma mentira repetida muitas vezes possa tornar-se verdade. Vamos a factos: em 2014, ano de Mundial de Futebol, a Câmara Municipal de Braga pagou mais de 50 mil €uros a uma empresa que patrocina as festas de São João para que esta montasse um ecrã gigante e um mini estádio na Praça do Pópulo durante todo o mês do Mundial de Futebol. Referir, ainda, que este ecrã foi, em anos anteriores, sempre cedido graciosamente pela mesma empresa nos termos do acordo de patrocínio. Rigor e parcimónia, portanto.
Ainda em 2014, por sua ordem, a Câmara Municipal de Braga comprou ao irmão do Assessor da sua Vereadora do Desporto, por oitenta mil euros, sem concurso público e sem cumprir as mais elementares regras da transparência, um consultório de medicina dentária falido, sobre o pretexto de ali, através de um protocolo com uma ONG, também ele estabelecido em bases muito nebulosas, dar seis mil consultas por ano a crianças e idosos desfavorecidos do Concelho de Braga, gastando mais 120 mil euros em recursos humanos para três técnicos, contratados, também, sem concurso público. Rigor, parcimónia e transparência, portanto.
Questionado sobre este assunto na última Assembleia Municipal, realizada em Esporões, disse, tal como consta da respectiva Acta que pode ser consultada no sítio da Câmara Municipal, que continuará a fazer todos os negócios que entender com os seus amigos desde que estes sejam competentes. Grave. Demasiado. Principalmente na medida em que deixa claro que há dois critérios essenciais para realizar negócios, parcerias e iniciativas com a Câmara Municipal. 
Ser competente e amigo de Ricardo. Pois bem, sugere-se a todos os empresários, particulares, empresas, instituições, associações, clubes e outros mais que apenas sejam competentes que comecem a arrumar as malas para os Concelhos vizinhos porque por aqui só serão bem sucedidos os competentes que tenham o beneplácito da amizade do Sr. Presidente da Câmara. Rigor, parcimónia e transparência, portanto. Mas o fartar vilanagem não fica por aqui. Os últimos tempos revelaram que a Câmara de Braga que há uns meses, nas palavras do Sr. Presidente da Câmara, se encontrava em estado de pré-falência, pondo, inclusive, Ricardo Rio a hipótese de pedir auxilio ao Fundo de Estabilização Financeira do Estado (a Troika dos Municípios), vive agora um período dourado, fértil e pleno de saúde financeira. Outra coisa não pode, aliás, retirar-se do sem fim, do verdadeiro rol infindável de contratos de aquisição de serviços que a Câmara de Braga vem celebrando a torto e a direito.
Dou, apenas, dois ou três exemplos por manifesta falta de espaço. Seis mil setecentos e sessenta e cinco euros para a Alfamind Innovation Systems para a realização do Portal da Juventude do Município de Braga. A respeito desta empresa uma curiosidade; o proprietário é um ex-líder da Juventude Social Democrata e, no ano passado, viu ser-lhe atribuída a módica verba de trinta mil euros para refazer o Portal, o Sítio do Município. De pasmar, é o facto de quem conhecia o Portal Municipal antes dessa suposta intervenção e olha para ele agora não consegue vislumbrar nenhuma alteração de fundo, nem ao nível do Design, nem dos conteúdos.


Quarenta e seis mil euros para a Modelstand, a empresa do Sr. Presidente da Junta de Escudeiros, Penso Santo Estêvão e Penso São Vicente, curiosamente (ou não) um Presidente de Junta que é amigo e da mesma cor política do Sr. Presidente da Câmara, para aluguer de tendas para mercado romano, doze sanitários e dois estrados para a Braga Romana, sendo, hoje, a Modelstand a empresa do regime para tudo que é feiras, feirinhas e eventos que se vão realizando cá pelo Burgo. Grave é que outras empresas da mesma área de negócio não possam ter acesso à realização destes eventos que estão, à partida, reservados para o amigo de Escudeiros.
Há, ainda, 24985,73€ para o Diário do Minho, para 92 páginas de publicidade a cores no ano de 2015, forma encontrada por Ricardo Rio para tentar meter a imprensa local no bolso, procurando, por este meio, condicionar a sua liberdade e conquistar, em euros, a sua simpatia.
Rigor, parcimónia e transparência, assim se apresentou Ricardo Rio aos Bracarenses. Dezenas de contratos de aquisição de serviços e ajustes directos de qualidade e opção duvidosa, orçados, só este ano, em mais de um milhão de €uros, e, apenas, dois anos depois de ser eleito Ricardo Rio deixa bem claro ao que vem. Os Bracarenses, esses, terão uma palavra a dizer também já daqui a dois anos."


Pedro Sousa

Correio do Minho 16/06/15

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